#48 | Dos aplausos às vaias, uma noite amarga
Time de Zubeldía vai do céu ao inferno contra o Alianza Lima
50 segundos.
Esse era o tempo de duração de um revolucionário teste de DNA, apresentado em 2011, em um congresso de citologia.
“Mas que diabos você tá falando???”
“E o que isso tem a ver com o jogo?”
50 segundos foi o tempo transcorrido da entrada de Wendell até o primeiro gol do Alianza Lima.
Bem, não precisa de tanto tempo, tampouco teste de DNA, para saber a paternidade do frustrante empate de ontem.
Até porque o próprio assumiu a responsabilidade.
“Tinha de entrar outro e cumprir. Não passa por tirar o Ferreirinha. A decisão de acomodar o Wendell ali, que não foi boa, foi minha. Foi minha. (...) A minha decisão não foi a ideal.”
“A responsabilidade é minha, porque eu faço as trocas. Não é do que entra, nem do que sai, é minha. (...) A decisão é minha, por isso o responsável sou eu. Sou eu.”
“A partir da troca, nos desorganizamos. Incrivelmente, mas nos desorganizamos. Responsabilidade de quem? Minha.”
“O resumo de toda a situação é que o responsável fui eu, fui eu, fui eu. Na próxima vez, buscarei outra alternativa, principalmente pelo lado esquerdo do ataque.”
A entrada do jogador pelo qual se fez um esforço hercúleo, sobrenatural e, por ora, completamente injustificável, mudou a história de uma jornada sublime até então.
E se Zubeldía foi o pai do resultado do segundo tempo, também tem autoria - e mérito - do placar construído na primeira parte.
Uma atuação irretocável, apesar de alguns sustos, como a bola na trave do inoxidável Barcos, que teve desempenho que o nosso 9 deveria ter.
Três minutos depois, aos 31, Ferreirinha costurou e invadiu a área pelo lado esquerdo para fazer 1 a 0 e incendiar o Cícero Pompeu de Toledo.
Naquela altura, ele e o xará Lucas Ferreira - grata e acertadíssima surpresa de Zubeldía - eram os melhores do time, lado a lado com Marcos Antônio, motorzinho e onipresente do meio-campo.
Foi o camisa 20 quem cruzou na cabeça para Ferreirinha anotar o segundo, aos 36. Linda trama de pé em pé, com participações de Luciano e Enzo.
A noite era total.
Mas veio o segundo tempo, com mau presságio da saída de Arboleda, o senhor da zaga, substituído por Ruan.
O jogo, sob controle até os 19 minutos, virou do avesso instantaneamente com o Wendell em campo.
Confundiu Enzo, desmontou o sistema defensivo pelo lado esquerdo, bagunçou zagueiros e volantes de posição. Um completo desastre, causado por um jogador experiente, com séculos de Europa, que mais parecia um juvenil assustado e perdido - como já fora contra o Sport, diga-se.
O abafa ao fim da partida, com André Silva, Alves e Cédric, foi insuficiente para desempatar o 2 a 2.
As vaias indicam a volta da pressão em cima de Zubeldía.
Uma jornada para ser inesquecível se eternizou com o selo da amargura.
“Quando parecia que seria uma noite redonda, lamentavelmente não aconteceu”, resumiu o abatido técnico argentino.
🔴⚪⚫
Ferreira & Ferreirinha. A crônica do jogo era para ter o DNA da dupla! Ao contrário do lateral que veio do Porto, o Made in Cotia de 18 anos teve atuação impressionante. À vontade, com personalidade, acertou todas as decisões. Driblou certo quando era para driblar, recuou quando tinha de cadenciar, foi pra cima, marcou, se entregou. Ganhamos um jogador! Já Ferreirinha, ressurgiu das cinzas para fazer a diferença. Foi ponta e centroavante. Uma pena o empate colocar o grande jogo dos dois em uma nota de rodapé!
Calleri. Precisamos falar sobre Jonathan. Há algo sério acontecendo. À parte a falta de gols, já mencionada em textos por aqui, a entrega habitual, a pressão nos defensores, as assistências, a colaboração coletiva e, sobretudo, a alma, nada restou do que conhecíamos. Hoje, o camisa 9 está em algum lugar escuro, triste e melancólico. É preciso que tenha hombridade para colocar a faixa de capitão na mesa de Zubeldía, retirando dos ombros do conterrâneo todo o peso que uma decisão sobre sua titularidade possa ter. Seria um gesto de gratidão à lealdade do treinador ao centroavante. Talvez seja necessária uma ajuda externa para tirá-lo desse buraco.
P.S.1 Que falta faz um líder como Rafinha! Especialmente no primeiro gol peruano, nenhum gesto de reação de qualquer jogador para pegar a bola na meta, dar um esporro, gritar com todo mundo e trazer o time de volta para o foco do jogo.
P.S.2 Ferreira, Marcos Antônio, Enzo, Ferraresi, variações táticas, três zagueiros, etc. Luis Francisco Zubeldía não desiste, persiste, testa, erra, reavalia. Tem encontrado soluções onde parece não haver mais. Apesar de tudo, merece continuar, ainda mais dentro do contexto atual. Além desses motivos, a total incerteza no sucesso de uma troca faz com que este escriba siga convicto na permanência do argentino. É preciso insistir e acreditar no trabalho. E a “Torcida que Conduz” ter maior compreensão da complexidade do ano que temos pela frente.
Apertei o sim sem convicção. Não sei se a plataforma permite uma terceira opção, que seria o famoso "não sei", kkkkkk. A fase tá difícil