#45 | Empate imperdoável, futuro debatível
0 a 0 contra o Sport coloca Zubeldía na mira da torcida
19 dias.
Foi o tempo que o São Paulo de Zubeldía teve de intervalo entre a semifinal do Paulista e a estreia do Brasileirão.
Imperdoável, portanto, o desempenho e, sobretudo, o péssimo resultado diante de quase 38 mil pessoas no Morumbi, sábado, contra o Sport, na primeira rodada da maior competição nacional.
Nem a ausência de Oscar, cérebro do time, justifica o 0 a 0.
Tampouco o pênalti discutível perdido por Calleri, logo aos 2 minutos de jogo. Isolada sem sentido em direção às arquibancadas interditadas e vazias, por causa da montagem do palco para os show de k-pop nessa semana.
Sob qualquer ângulo, é impossível aceitar a falta de fome e apetite da equipe, sem qualquer senso de urgência para vencer um adversário bem mais fraco, vindo da série B, que certamente será uma presa fácil para a maioria dos anfitriões ao longo do torneio.
Sem dúvida, compreende-se a deficiência de criatividade na falta de Oscar e Lucas, os principais jogadores da engrenagem.
Porém, é imperativo que os outros experientes e protagonistas se imponham, liderando o time nesses momentos - que, por sinal e infelizmente, devem ser recorrentes.
Arboleda, Alisson, Luiz Gustavo, Calleri e Luciano têm de pegar o leme do barco, em todos os fronts: anímico, tático, técnico e espiritual.
Igor Vinícius está no clube desde 2019, sem motivos para se portar como um mero coadjuvante.
É preciso interpretar o duro ano que temos pela frente.
Todo e cada jogo é uma batalha árdua, a ser travada com “sangue, trabalho, suor e lágrimas”.
As merecidas vaias ao final do empate desastroso sintetizaram o desgosto e sinalizaram o alvo principal da torcida, Zubeldía, agora em situação periclitante.
Quarta-feira tem a estreia da Libertadores, em Córdoba.
“A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
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Calleri. Inadmissível e incompreensível a cobrança do camisa 9. O 1 a 0 traçaria outra rota para o jogo. A despeito das assistências e do trabalho sujo bem feito, Calleri precisa voltar a se enamorar com o gol, oxigênio de qualquer centroavante. Já passou da hora de entender o lugar cativo nos corações tricolores, o que lhe confere responsabilidade irrevogável de não desabar a cada revés, gol perdido ou obstáculo no caminho.
Luiz Gustavo. Triste atuação do volante em sua estreia oficial na temporada. Ao menos teve hombridade para assumir o desempenho abaixo da crítica.
Wendell. Outro que decepcionou, mesmo com a “mini pré-temporada” de quase 20 dias. Errou lances fáceis, se equivocou no posicionamento em campo e não gerou jogadas pela esquerda. Enzo entrou, deu nova vida no corredor canhoto e mostrou ainda ser o dono da posição. Será essencial contra o ex-time na quarta.
Cotia. A única boa notícia do sábado. Tanto Alves quanto Ferreira entraram a mil por hora, dando carrinho, lutando por cada bola como se fosse a última e tiveram sucesso em quase todas as jogadas individuais. Já mostram que merecem mais chances e são muito mais confiáveis do que o emprestado Erick ou o insuficiente Ferreirinha. É hora da base, Zubeldía!
Reset?
Por fim, claro, o tema do momento: a demissão de Zubeldía e o possível retorno de Dorival Júnior ao clube.
Direto e reto: sou contrário a (mais um!) reset.
Gosto do trabalho do argentino, que leva o barco apesar das intempéries de um mar extremamente revolto - e bota revolto nisso! Cinto financeiro apertado, dívida na casa do R$ 1 bilhão, elenco reduzido composto por jovens de 18-20 anos e veteranos 30+, péssima gestão de presidente e diretoria em todos os aspectos, entre outras adversidades. Zubeldía comprou o pacote completo, não reclama e consegue manter o time por uma rota regular. Como todos os treinadores, é claro que comete erros (já até assumiu a culpa, outro atributo dele), deslizes naturais para um técnico ainda jovem. A minha balança ainda pende para a manutenção, com convicção e insistência no trabalho, que, aliás, não completou 1 ano.
A incerteza de que Dorival poderia melhorar o time nesse contexto complexo e desafiador é a principal razão para refutar o retorno. “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”, disse Heráclito. No caso dele, seria a terceira vez. É um rio bem diferente de 2023. Um cenário tormentoso, sem opções fartas de meio-campo, setor a partir do qual o veterano treinador estrutura suas equipes, em geral com um tripé. Há também o fato nada desprezível, ainda que compreensível: Dorival não hesitou em deixar o São Paulo com a brocha na mão a poucos dias do início da temporada de 2024. Depois da passagem irregular de Carpini, quem recolocou o time nos trilhos? Pois é. Zubeldía merece voto de confiança.
Infelizmente, o destino está nas mãos de Casares. E sabemos como a banda do populismo toca pelos lados do Morumbi. Decisão diferente da demissão seria uma surpresa tão atípica quanto bem-vinda.
A ver.
Zubeldia merece ficar. Deu ao São Paulo muito mais do que recebeu. É de uma lealdade muito rara nesse universo. Nunca reclamou e nem cobrou nada.
Que tenham juízo os dirigentes!!!!