#1 | Na tarde de um domingo azul
Há 1 ano, a densidade aflita do Cícero Pompeu de Toledo foi atmosfera perfeita para um reencontro com a própria História
Tal qual um bebê recém-nascido, que leva alguns segundos para soltar o anúncio sonoro de sua chegada, o grito do camisa 11 demora a sair. Parece estacionado no peito. A exemplo de todo pequenino ser que vem ao mundo, é precedido de um semblante franzido, misto de agonia e alívio, para, enfim, atravessar a atmosfera e se fazer ouvir.
À frente da bandeira com o escudo e as cores do clube que ama, Rodrigo Nestor se agacha, punhos fechados, braços unidos entre as pernas, e explode em brado do fundo da alma, em celebração inesquecível, furiosa, urgente.
Como “Blackbird”, ele estava só esperando por esse momento pra voar. Pra renascer, 23 anos depois do primeiro choro, em 9 de agosto de 2000, exato 1 mês após uma das mais marcantes feridas abertas no peito de todo torcedor são-paulino. Seu chute bailarino de canhota cicatriza em definitivo o rasgo de 9 de julho, no Mineirão.
“Ele merece! Ele merece!”, grita Pablo Maia, abraçando e apontando para o camisa 11. A dupla Diego Costa e Beraldo também chega, para envolver o menino de Iansã de carinho e afeto. Calleri vem em seguida, escoltado por todo o banco de reservas, que atravessa o campo para acalentar e exaltar o talento do craque.
“Eu amo vocês! Eu amo vocês!”, se declara, espalhando paixão a um Morumbi agora ensandecido. Gol redentor para acalmar a densidade aflita do Cícero Pompeu de Toledo ardido em brasa a 38 graus Celsius, ar rarefeito, respiração suspensa por longos 6 minutos em que o Flamengo ficou na frente, tento de Bruno Henrique.
Na comemoração que já se tornou fotograma para sempre – a exemplo do abraço de Raí em Telê -, a força fundamental de Cotia, sem a qual seria impossível passar por toda a travessia no deserto dos últimos tempos. Sem a qual seria impossível reencontrar o próprio caminho, se reencontrar consigo mesmo, com a própria História.
❤️🤍🖤
A narração do gol, por Eder Luiz, da Rádio Transamérica:
Baita texto! Me transportou de volta ao Morumbi, naquele que foi um dos momentos mais intensos que já vivi no estádio!
Dia total!